Olá a todos, é hora de trocar as etiquetas dos vasos!!
É com enorme prazer (e alívio) que anuncio aqui a publicação (finalmente) de um artigo de 40 páginas que resume 23 anos de trabalho de campo com o complexo Drosera villosa no Brasil. Acho que escrevi a 1a versão deste artigo em 1997, mas a coisa só andou de vez a partir de 2008 quando eu comecei a trazer os incríveis co-autores deste trabalho - que não apenas embelezaram o artigo e o tornaram mais profissional, como tbm adicionaram muitos "insights" importantíssimos, ajudando a descrever uma espécie nova que surgiu do nada uns poucos anos atrás (a D.sp."ascendens peluda" do Adilson) e outra espécie mto doida q o Adilson achou, a verdadeira D.ascendens redescoberta após quase 200 anos
Sim, as más notícias para todos vcs é que as plantas que antes chamávamos de D.ascendens agora chama-se D.latifolia.
Em resumo, o complexo Drosera villosa agora inclui 6 espécies: D.villosa, D.ascendens, D.graomogolensis, D.latifolia, D.riparia e D.chimaera.
Link p/ abstrato e conclusões:
http://mapress.com/phytotaxa/content/20 ... 6p040f.pdfLink para download do artigo completo (pra quem tem acesso):
http://biotaxa.org/Phytotaxa/article/vi ... xa.156.1.1Quem não tiver acesso, me mande uma MP com teu email.
E agora um pequeno resumo das espécies:
Drosera villosa: A verdadeira D.villosa ficou esquecida por quase 200 anos e é endêmica a apenas duas serrinhas no sul de Minas: Ibitipoca e Serra Negra. Comparado a outras espécies deste grupo, ela possui longas folhas estreitas e peludas, com pecíolos +- do mesmo tamanho da lâmina.
D.villosa na Serra de Ibitipoca, MG (velhas fotos escaneadas, perdão pela qualidade ruim!):
D.villosa & D.tomentosa var.glabrata sobre arenito na Serra de Ibitipoca, MG (velhas fotos escaneadas, perdão pela qualidade ruim!):
D.villosa na Serra Negra, MG (local tipo, fotos do Nilber Silva):
Fotos do híbrido natural D.villosa X D.tomentosa var.glabrata na Serra de Ibitipoca, podem ser vistas aqui nesse forum ou nesse link:
http://www.cpphotofinder.com/drosera-x- ... -4778.htmlDrosera ascendens: A verdadeira D.ascendens é endêmica a uma pequena região ao norte de Diamantina, MG. Como D.villosa, a D.ascendens tbm foi coletada originalmente pelo botânico francês Auguste de Saint-Hilaire no início do século 19, e apenas redescoberta há poucos anos pelo nosso querido amigo e explorador intrépido Adilson Peres (relatado aqui no forum), próximo a pequena cidadezinha de Inhaí (por isso chamada de D.sp."Inhaí" desde então). Além da haste floral estranhamente curvada ("ascendente") na base, essa espécie é única nas Américas por ter enormes glândulas vermelhas cobrindo os escapos florais.
D.ascendens próximo a Inhaí, MG:
D.ascendens no Parque Nacional das Sempre Vivas, MG:
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Drosera graomogolensis: Não se preocupem, essa espécie não mudou! ;) Nos simplesmente registramos novas ocorrências, mostrando q ela é mais amplamente distribuída do q se pensava, ocorrendo por toda a Serra de Grão Mogol, Cristália, Botumirim e Itacambira. Entre outros caracteres, essa espécie possui folhas curtas (especialmente os pecíolos, formação de caules elongados cobertos por folhas mortas, e grandes flores com longos pistilos (característica compratilhada com D.ascendens, a qual é parente bem próximo).
D.graomogolensis crescendo na beira de um rio, próximo a Botumirim, MG:
D.graomogolensis crescendo em local mais seco, próximo a Botumirim, MG:
Colunas de folhas mortas são comuns em D.graomogolensis crescendo próximo a Botumirim, MG:
D.graomogolensis (direita) and D.spiralis (esquerda) próximo a Botumirim, MG:
D.graomogolensis próximo a Grão Mogol, MG:
Drosera latifolia: OK, segurem-se pois é aqui q a coisa fica complicada! Nos últimos 20 anos eu venho enchendo o saco dos cultivadores de PCs no mundo inteiro, insistindo q as "D.villosa" em cultivo eram na verdade D.ascendens. Pois é... Eu tinha razão que não eram D.villosa, mas não tinha como saber q a verdadeira D.ascendens ainda estava se escondendo nos cafundós de Minas, desde q o St.Hilaire esteve lá há quase 200 anos. Bom, para estas plantas agora órfãs de nome, tivemos então que resuscitar o nome mais antigo dado a elas, D.villosa var.latifolia, elevando este a espécie. D.latifolia é então a espécie mais amplamente distribuída deste grupo, ocorrendo desde a divisa RS/SC até o ES pelas serras litorâneas e até a Serra do Cabral e platô de Diamantina pela Cadeia do Espinhaço em MG. Não supreendentemente D.latifolia é tbm a mais variável do complexo villosa. Durante anos debatemos essa variabilidade toda: eram variedades, subespécies, híbridos, variação ecológica, ou apenas uma espécie mto polimórfica? Para resolver isso, seria necessário ainda mtos anos de trabalho de campo (como tbm análises genéticas), e portanto decidimos publicar essa variação de D.latifolia como "morfotipos" geográficos, caso contrário esse artigo só sairia num futuro mto distante, quando já seríamos todos velhinhos gagás.
De qq forma, os morfotipos q reconhecemos são: morfotipo típico, da Serra do Mar, de Salesópolis, da Serra do Espinhaço, do Pico do Itambé, e da Serra do Caparaó.
D.latifolia “morfotipo típico” na Serra dos Órgãos (local tipo), RJ:
D.latifolia “morfotipo típico” no Pico da Caledônia, RJ:
D.latifolia “morfotipo típico” em Itatiaia, divisa MG/RJ:
D.latifolia “morfotipo típico” com U.reniformis em Itatiaia, divisa MG/RJ:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Mar” e D.communis próximo a Paranapiacaca, SP:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Mar” no Caminho do Mar, SP:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Mar” próximo a Parelheiros, SP:
D.latifolia “morfotipo de Salesópolis” próximo a Salesópolis, SP:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Caparaó” no Pico da Bandeira, divisa MG/ES (velhas fotos escaneadas, sorry pela qualidade ruim!):
D.latifolia “morfotipo do Pico do Itambé” no Pico do Itambé, MG (velhas fotos escaneadas, sorry pela qualidade ruim!):
D.latifolia “morfotipo da Serra do Espinhaço” no Parque Nacional das Sempre Vivas, MG:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Espinhaço” com G.repens aquáticas no Parque Nacional das Sempre Vivas, MG:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Espinhaço” próximo a Couto de Magalhães de Minas, MG:
D.latifolia “morfotipo da Serra do Espinhaço” (alto) e seu híbrido com D.tomentosa var.tomentosa (abaixo) próximo a Couto de Magalhães de Minas, MG:
D.latifolia “morfotipo Serra do Espinhaço” (plantas verdes na esquerda) e seu híbrido com D.tomentosa var.glabrata (planta vermelha na direita) próximo a Diamantina, MG:
D.latifolia “morfotipo Serra do Espinhaço” X D.tomentosa var.glabrata próximo a Diamantina, MG (foto velha escaneada, sorry pela qualidade ruim!):
Drosera riparia: Essa espécie é endêmica às serras do interios da Bahia, especialmente a Chapada Diamantina. Eu descobri essa espécie no longínquo ano novo de 1992 p/1993 e ela é conhecida em cultivo como D.sp.Bahia. Ela é a menor de todas as espécies deste grupo e já foi até confundida por D.communis por uma "taxonomista" louqinha (que ficará aqui sem nome...), possivelmente por causa das diminutas rosetas e folhas com longos pecíolos. O nome "riparia" se refere ao habitat comum desta planta, ao long do rios e riachos - onde inclusive nosso colega Jonathan Ferreira achou uma linda população perto de Mucugê (mostrada aqui no forum).
D.riparia próximo a Catolés, BA (fotos velhas escaneadas, sorry pela qualidade ruim!):
D.riparia na Serra das Sete Voltas, BA:
Uma pequena D.riparia (abaixo), D.tomentosa (centro), e D.communis (alto) no Pico das Almas, BA:
Drosera chimaera: Essa espécie tbm foi descoberta pelo Adilson e reportada aqui nesse forum pela 1a vez. Essa planta nos confundiu mto no início, olhando as fotos do Adilson, e no fim tivemos q ir lá e ver ao vivo pra nos convencermos de q era realmente uma espécie nova. Só 3 populações são conhecidas na região de Grão Mogol e em cultivo ela é conhecida como D.sp."ascendens peluda". O nome "chimaera" refere-se ao fato dela apresentar um mosaico de características, com roseta de uma pequena D.latifolia mas a inflorescência e sementes de uma D.tomentosa var.tomentosa. Mas D.latifolia não é conhecida daquela região, e D.chimaera não foi observada crescendo próxima a D.tomentosa nem D.graomogolensis (ambas relativamente comuns na região de Grão Mogol). Além disso, D.chimaera é altamente fértil e produz um monte de sementes, sugerindo q é (no máximo!) de origem hibridogênica, mas não um híbrido. Ou pode ser q ela seja apenas o "elo perdido" entre os complexos villosa e montana (aliás, em breve publicaremos uma revisão tbm do complexo montana, incluindo D.montana, D.tomentosa var.tomentosa, D.tomentosa var.glabrata, D.tentaculata, e uma espécie nova conhecida aqui nesse forum como D.sp."Shibata").
D.chimaera no local tipo entre Grão Mogol e Cristália, MG:
Esse artigo tbm é o 1o registro oficial dos híbridos naturais mencionados acima: D.villosa X D.tomentosa var.glabrata da Serra de Ibitipoca e D.latifolia X D.tomentosa (var.tomentosa e var.glabrata) na região de Diamantina, MG. Estes são apenas o 3o e 4o híbridos naturais descritos na Am.do Sul, fora D.X fontinalis (D.grantsaui X D.tomentosa var.tomentosa e var.glabrata de MG, BA e GO) e D.quartzicola X D.chrysolepis.
Espero q tenham curtido e por favor comecem a mudar as etiquetas nos vasos!! ;)
Feliz 2014,
Fernando Rivadavia